Postado em 9 de julho de 2020 | 17:36
O Grupo Servtec Energia anunciou recentemente um investimento de R$ 210 milhões na construção 22 usinas de geração solar em 10 estados brasileiros, somando 54 MWp. Agora, já existe um trabalho para começar as obras já no próximo mês, conforme revela o CEO da Servtec, Pedro Fiuza. “Toda a preparação e importação de equipamentos já começou. O licenciamento ambiental já está todo resolvido. A maioria dos pareceres de conexão está resolvido também. O empreendimento está encaminhado para ter suas obras iniciadas em agosto”, afirma. Nesta entrevista ao Petronotícias, o executivo fala também como a companhia está enfrentando os desafios impostos pela pandemia do coronavírus e do futuro do mercado de geração distribuída no país. Fiuza comenta ainda sobre os planos de crescimento da Servtec – que envolvem o desenvolvimento de projetos com parceiros e a aquisição de plantas já prontas. “São essas as duas frentes que nos permitem dar velocidade e agressividade ao nosso crescimento”, explica.
Como a empresa se preparou para fazer este investimento em um momento tão desafiador para a economia?
Os planos de fazer esses investimentos vêm de longa data. No final do ano passado, começamos as negociações com os clientes consumidores de energia. Contudo, tivemos uma parada no começo da pandemia, em março. Não fazia sentido expor os trabalhadores e o time que iria implantar essas usinas em um momento tão delicado. Economicamente, tivemos uma desvalorização forte do Real. E como 60% dos componentes são importados, deixou de fazer sentido naquele momento.
Mas à medida que a crise foi se desenvolvendo e, agora, entendemos que estamos em um momento de arrefecimento de todo esse problema. O Brasil é um país muito grande e cada região está tendo uma reação diferente. Sei que ainda tem muito desafio pela frente. Mas, entendemos que era chegada a hora de tirar esses projetos do papel. O real voltou a apreciar e demos ordem de compra para nossos equipamentos. Além disso, hoje existe um domínio maior de como lidar com a doença. Por isso, passamos a ter um pouco mais de conforto para cair em campo e fazer as obras.
A crise tem impactado fortemente a maioria das empresas, salvo aquelas que já estão digitalizadas e atuando no e-commerce. Então, a solução que estamos oferecendo para as empresas é promover uma redução no custo de energia sem nenhum investimento por parte do cliente. Então, no momento em que as empresas estão buscando alternativas para se tornarem mais eficientes e reduzir seus custos, a solução que apresentamos ao mercado é muito bem aceita.
Quando as obras devem começar?
As obras só vão começar em agosto, mas toda a preparação e importação de equipamentos já começou. O licenciamento ambiental já está todo resolvido. A maioria dos pareceres de conexão está resolvido também. O empreendimento está encaminhando para ter suas obras iniciadas em agosto.
No ano passado, fizemos quatro usinas na Bahia e em São Paulo somando 15 MW. Duas delas já estão construídas, energizadas e compensando energia. E duas outras estão em fase final de energização, mas com a construção finalizada.
Como acredita que o mercado de geração distribuída se comportará no período de pós-pandemia?
A minha visão é muito otimista em relação ao desenvolvimento da geração distribuída por diversos aspectos. Primeiro, porque você está promovendo a geração próximo ao consumo. Isso diminui a necessidade de uma série de investimentos em infraestrutura no país, principalmente em relação às linhas de transmissão. Segundo ponto: a geração distribuída é totalmente renovável e limpa. Mais de 90% dela vem da fonte solar. Ou seja, estamos adicionando geração limpa e renovável na matriz energética.
O terceiro ponto é que pelo fato de ser pulverizada, a geração distribuída provê desenvolvimento e geração de emprego em diversas regiões que dificilmente seriam atingidas positivamente por outro tipo de indústria ou serviço. Repare que 54 MW é muito pouco em termos de potência instalada. Mas repare que esses 54 MW estão espalhados em dez estados. Isto promove uma geração de emprego e desenvolvimento em regiões de forma muito bacana.
O quarto ponto é que em todas essas regiões, os terrenos são todos arrendados. Isso leva renda para pessoas que têm áreas que dificilmente teriam outro uso, a não ser agricultura familiar ou criação de gado. E o quinto item é a criação de novas empresas de pequeno e médio porte para nos apoiar nessas iniciativas. Ao longo dos nossos 20 anos, sempre desenvolvemos, implantamos e operamos nossos parques. Agora, estamos fazendo um pouco diferente. Como são projetos muito pequenos e espalhados, buscamos fomentar os desenvolvedores para que eles possam desenvolver esses projetos. Enquanto isso, nós fazemos o investimento nessas usinas.
O objetivo da empresa é chegar a 250 MWp até o final de 2021. Como pretendem alcançar esse resultado?
O nosso plano nesse negócio é, primeiro, não tentar fazer o desenvolvimento pela Servtec, mas sim buscar os parceiros para fazê-lo. Isso está nos dando muita capilaridade. Hoje, temos mais de meia dúzia de desenvolvedores trabalhando no campo, buscando criar essas oportunidades. Esta primeira diretriz estratégica nos permite desenhar esse plano de crescimento tão agressivo.
Em segundo lugar, buscamos e começamos algumas negociações para aquisição de projetos prontos. Existe uma série de pequenos desenvolvedores ou de empreendedores que, de fato, fizeram algumas pequenas plantas. Essas são as pessoas com quem estamos conversando e tentando trazer para nossa plataforma. Ao adquirir um ativo como esse, existem vantagens para ambas as partes.
São essas as duas frentes que nos permitem dar velocidade e agressividade ao nosso crescimento.
A empresa anunciou a sua entrada em geração distribuída no último trimestre de 2019. Qual o balanço desses primeiros meses de atuação no segmento?
Deste então, muita coisa evoluiu. Eu posso falar que, do ponto de vista público, eu vejo uma percepção muito mais consolidada perante os nossos governantes e parlamentares. Tenho percebido que existe uma consciência maior sobre o benefício para a sociedade em relação ao tema da geração distribuída. Não só o benefício econômico, mas o social e ambiental.
Na outra ponta, hoje existe muito mais clareza por parte dos clientes do benefício da geração distribuída para suas empresas. Então, do ano passado para cá, as conversas estão completamente diferentes. No passado, as pessoas não entendiam bem como funcionava o negócio. Existia um certo ceticismo do comprador de energia. Hoje, existe uma melhor percepção por parte do cliente. É mais fácil vender o conceito do benefício da geração distribuída. O trabalho comercial é muito mais fácil.
O mundo está caminhando para uma sociedade de baixa emissão de carbono. Isso é fato. O Brasil é um país abençoado pela abundância de três recursos limpos e renováveis – água, vento e sol. Não podemos perder a oportunidade de promover desenvolvimento com uma boa dose de proteção ao meio ambiente através dessas três fontes. E a solar cada vez mais predominando, principalmente no que diz respeito à geração distribuída.
Por fim, gostaria que comentasse como a Servtec está atuando para driblar e vencer os desdobramentos da pandemia de Covid-19.
A nossa atividade é de serviços essenciais. Então, todo o time de escritório está em home office. Desde maio, nós passamos essa decisão para o colaborador: é totalmente dele a escolha entre trabalhar de casa ou no escritório. Para quem preferiu ficar em casa, a empresa deu tudo o suporte para que tivessem condição de trabalhar de casa mantendo sua produtividade. Nas usinas, estamos tendo um cuidado triplicado com nossos colaboradores. Cada usina tem um médico próximo na região para acompanhar todos os profissionais. Todo o dia é feita aferição de temperatura dos colaboradores. Quando alguém apresenta algum tipo de sintoma, encaminhamos para o hospital. E no final, em todas essas usinas, temos um time de backup. Esse backup está muito mais ativo em função disso.
Não tivemos nenhuma paralisação em nossas usinas térmicas, eólicas e nas plantas solares. Todas estão operando muito bem. Tivemos um ou outro afastamento, mas nenhum profissional nosso teve sintomas mais sérios. Todos os dias, eu recebo um relatório dos diretores das minhas usinas, com o estado dos colaboradores.
Do ponto de vista financeiro, temos preservado caixa. Tomamos algumas medidas para preservar caixa e também estamos sendo super seletivos em nossos investimentos, como este que estamos fazendo agora. Estamos muito seletivos na hora de tomar decisão de investimento, justamente para preservar o caixa para os momentos eventualmente difíceis que podem vir pela frente.