Parceria com empresa alemã em exploração gera protestos, segundo DW Brasil. Salar do Uyuni é o maior deserto de sal do mundo e teria mais de 50% da reserva global de lítio.
A Salinas no Salar de Uyuni, no departamento boliviano de Potosi, não é apenas o maior deserto de sal do mundo, como também conteria a mais de 50% das reservas conhecidas de lítio do planeta. Desde o ano passado, o governo sul-americano fechou uma parceria para explorá-lo, deixando de lado os chineses (que estariam menos sujeitos a pressão popular em caso de protestos). Pois bem, um ano depois do acordo, os protestos continuam. O foco? Os cerca de 21 milhões de toneladas do chamado “ouro branco”.
A industrialização do lítio é uma das principais apostas do governo de Evo Morales. Em outubro de 2018, a estatal Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB) elegeu a empresa alemã ACI Systems como parceiro estratégico para Uyuni. Desde então, o Comitê Cívico Potosinista (Comcipo) tem exigido detalhes do contrato. A parceria seria estranha, pois a YLB, com 51% das ações, não possui capacidade técnica para desenvolver e implementar um projeto de mineração de lítio complexo e nem um projeto de fabricação de material catódico e baterias de lítio com tecnologia de ponta.
Como parceiro estratégico, a ACI Systems Alemania (ACISA), subsidiária do Grupo ACI, prevê a recuperação de hidróxido de lítio de salmoura residual do Salar. A base tecnológica inclui a experiência da companhia e uma rede de especialistas externos e empresas e instituições como a K-UTEC Salt Technologies, o Instituto Frauenhofer e a VDAM (Associação Alemã da Indústria de Engenharia Mecânica).
“A joint venture brinda a Alemanha e a Europa com acesso direto à matéria-prima do lítio”, admitiu Schmutz. Mas a Bolívia, por sua vez, tem acesso à tecnologia para a extração e industrialização dessa matéria-prima. Segundo Schmutz, parte essencial numa joint venture estabelece que “dois parceiros criam o que um sozinho não consegue”.
Os investimentos necessários para que sociedade mista entre YLB e ACISA cumpra seu objetivo de produzir hidróxido de lítio “atualmente somam cerca de 300 milhões de euros, segundo estudos de viabilidades”, afirmou Schmutz, em entrevista à DW. E o financiamento é executado de acordo com a participação de cada parte na sociedade – 51%, da YLB, 49% da ACISA.
O acordo assinado estipula que “parte do lítio obtido permanecerá na Bolívia e a ACISA cumprirá esse acordo”, garantiu Schmutz, sem especificar qual será a quantidade restante de lítio na Bolívia. De acordo com ele, “será estabelecida uma nova joint venture para a produção de material catódico e sistemas de bateria na Bolívia”. E também para estes planos, a empresa alemã afirmou apostar em “contatos com empresas alemãs e europeias, interessadas em participar como parceiras tecnológicas”.