Mercado livre agora sustenta pedidos para indústria eólica, diz Vestas

postado em: Noticias | 0

A lenta retomada da economia brasileira deve manter baixa a demanda nos leilões promovidos pelo governo para contratar novos projetos de geração de energia, forçando mudanças no mercado local de equipamentos eólicos, ao menos no curto prazo, disse à Reuters o presidente local da fabricante dinamarquesa Vestas.

A fornecedora, que lançou recentemente uma nova e mais potente turbina no país, já fechou vendas locais de 1,5 gigawatt do modelo, com a maioria dos contratos para atender empresas que construirão parques para venda da produção principalmente no mercado livre de eletricidade —onde grandes clientes como indústrias negociam diretamente as compras de energia.

A tendência deve continuar e marca uma virada frente a anos mais recentes, quando os pedidos da indústria eram sustentados pelas licitações governamentais, o chamado mercado regulado, disse Rogerio Zampronha, diretor-geral da Vestas para o Brasil e o Cone Sul.

“Eu entendo que o mercado livre deve continuar aquecido por pelo menos mais um dois anos. Nesse momento de baixo crescimento econômico, o mercado regulado tem se mostrado obviamente mais fraco”, afirmou o executivo.

Os leilões do governo chegaram a contratar em 2013 um recorde de 4,7 gigawatts apenas em usinas eólicas, contra cerca de 1,3 gigawatts eólicos nos certames do ano passado, uma marca que poucos esperam que possa ser superada em 2019, com a economia ainda lutando para se recuperar de uma severa recessão.

“Dos negócios que anunciamos, a maioria é para o mercado livre. Tem alguma coisa no regulado, mas a maior parte é livre, mais da metade. Então já passou o regulado, pelo menos no nosso negócio. E isso deve durar um tempo a mais”, disse Zampronha.

O executivo lembrou que o número de clientes no mercado livre saltou fortemente após uma disparada das tarifas reguladas em 2015. Desde então, a “migração” de empresas atendidas por distribuidoras para esse ambiente de contratação também ajudou a reduzir a demanda nas licitações federais.

Esse movimento, no entanto, não é impulsionado apenas pela questão econômica, mas também pela busca das empresas por práticas mais sustentáveis, uma vez que os contratos privados no ambiente livre podem permitir que o cliente escolha a fonte de geração que abastecerá seu negócio.

“Muito dessa migração vem das políticas de sustentabilidade de grandes empresas. É uma exigência dos consumidores de hoje… é uma tendência irreversível, ainda mais porque a energia renovável é a mais barata que existe no mercado. É um pacote absolutamente encantador”, afirmou Zampronha.

Ele projetou que os certames deste ano deverão contratar volumes não muito diferentes do total de 3,1 gigawatts em potência vistos no ano passado, quando cerca de um terço da capacidade foi de empreendimentos eólicos.

LIDERANÇA
Os pedidos já fechados pela Vestas no Brasil desde o lançamento da nova turbina —com potência unitária de 4,2 megawatts, contra 2 megawatts do modelo anterior— têm colocado a empresa na liderança da disputa pela nova geração de equipamentos eólicos, disse o presidente local da companhia.

Além da dinamarquesa, concorrentes como WEG, GE, Nordex-Acciona e Siemens Gamesa também já anunciaram desde o ano passado novos e mais potentes equipamentos para o mercado local.

“No mercado global, a Vestas terminou 2018 com 22,8% de participação, incluindo China, e quase 38% quando excluída a China. No Brasil, só posso dizer que temos sido o grande vencedor dos últimos contratos, certamente estamos liderando com uma vantagem importante”, afirmou Zampronha.

A produção da Vestas atenderá regras de conteúdo local do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para permitir que clientes financiem com o banco a compra das turbinas. Os primeiros equipamentos da nova linha para o Brasil serão montados em novembro na unidade da empresa no Ceará, que teve a área dobrada para 70 mil m² para atender essa demanda.

O índice de nacionalização das máquinas da Vestas no Brasil tem variado de 60% a 75%, aproximadamente, de acordo com o câmbio, afirmou Zampronha.

Segundo ele, a certificação do BNDES para a nova linha é esperada para o início de 2020, quando a primeira máquina já deverá estar montada em uma usina da elétrica Echoenergia.

Ele destacou ainda que a empresa tem fechado junto com a venda das máquinas acordos para prestar serviços de operação e manutenção dos equipamentos no longo prazo, o que é uma fonte importante de receitas.

A companhia já fechou inclusive a venda de serviços de manutenção para equipamentos de terceiros —ela chegou a um acordo em meados de 2018 para atender parques da Queiroz Galvão no país que foram montados com máquinas da indiana Suzlon, após a rival ter anunciado a saída do Brasil.

Fonte: Reuters